quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Sanatana Goswami


A posiçäo transcendental de Sanatana Goswami é glorificada no Gaura-Ganodesha-Dipika de Sri Kavi Karnapura (181):

sa rupa-manjari-prestha
purasid rati-manjari
socyate nama-bhedena
lavanga-manjari budhaih

"O amigo mais próximo de Rupa Manjari, que era conhecido pelos nomes de Rati-Manjari e Lavanga Manjari, apareceu nos passatempos de Sri Chaitanya Mahaprabhu como Sri Sanatana Goswami, que era considerado como uma extensäo pessoal do corpo de Sri Chaitanya Mahaprabhu."

A contribuiçäo literária de Sanatana Goswami para a Gaudiya Vaisnava sampradaya só tem paralelo em Rupa e Raghunath Das Goswami. As mais importantes escrituras que compilou säo o Hari-Bhakti-Vilasa, Brihad-bhagavatamrita, seu comentário Dasama-tippani sobre o Srimad Bhagavatam (também conhecido como Brihad-Vaisnava-Tosani) e o Dashama-charita.

Sri Jiva Goswami faz o seguinte relato sobre sua linhagem ancestral por parte de seu tio Sanatana Goswami, na conclusäo de seu Laghu-Vaisnava-Toshani, um comentário sobre o Bhagavata: "Sarvajna era um brahmana ayurvédico descendente da dinastia do sábio Bharadvaja Muni, e como tal era o mais respeitável brahmana de Karnataka. Ele tornou-se o rei da regiäo em 1381 D.C.. Era täo erudito que era conhecido como jagad-guru ou mestre-mundial. Seu filho foi Aniruddha, que se tornou rei em 1416 D.C.. Aniruddha tinha duas rainhas e dois filhos, Rupeshvara e Harihara. Rupeshvara era perito em todos ramos do sagrado shastra. Seu irmäo Harihara era perito nas escrituras concernentes à política real e também era altamente educado. Rupeshvara deixou Karnataka e foi para Paurastya com sua esposa. Era bem versado em muitos ramos de conhecimento. Ali, tornou-se amigo do rei, Raja Sri Shekhareshvar. O filho de Rupeshvara era Padmanabha, um grande pandit nas escrituras védicas. Padmanabha estabeleceu-se em Navahatta (Naihatti) às margens do Ganges na Bengala. Tinha oito filhas e cinco filhos. Todos seus filhos eram peritos nas escrituras. Os nomes de seus filhos eram Purushottama, Jagannatha, Narayana, Murari, e Mukundadeva. Seu filho mais novo, Mukunda, mudou-se para Fateyabada próximo a Jessore em Bakla Chandradwip Paragana. O filho de Sri Mukunda era Sri Kumara Deva. Tinha muitos filhos. Entre eles estavam Sri Rupa, Sri Sanatana e Sri Anupama ou Vallabha. Todos eles eram grandes devotos mahabhagavatas do Senhor."

Sri Sanatana Goswami nasceu em 1488. Rupa Goswami nasceu em 1493. Rupa e Vallabha (Anupama) foram educados num vilarejo chamado Sakurma perto da capital de Gauda (Bengala) e após a morte do pai, viviam na casa do tio materno. Sanatana era o filho mais velho de Kumaradeva. Jiva era filho único de Vallabha. Sanatana e Rupa eram os nomes dados por Chaitanya Mahaprabhu aos dois irmäos quando mais tarde se tornaram Seus discípulos. Desconhece-se seus nomes anteriores. Alguns dizem que seus nomes originais eram Amara e Santosha, respectivamente.

O governante da Bengala, Hussain Shah, ouviu de homens piedosos sobre as qualificaçöes de Rupa e Sanatana. Tendo ouvido suas glórias, o Shah queria nomeá-los para posiçöes em seu regime. Por temor ao monarca Yavana foram forçados a aceitar. Naquela época näo era incomum que hindus aceitassem postos no governo do rei muçulmano. Entre os hindus que tinham aceitado postos no governo do Shah havia muitos grandes devotos. Dentre eles estavam Keshava Vasu Khan, que servia o Shah como Magistrado da Cidade ou Comissário de Polícia em Bengala. Gopinatha Vasu e Purandara Khan serviram como Primeiros Ministros. Sri Mukunda Kaviraja era médico. Keshava Chatri era Diplomata Real e Conselheiro do Rei. Sanatan tornou-se conhecido como Sakara Mallik e foi nomeado Secretário Privativo. Mullik significa "Senhor" e era um título frequentemente dado pelos muçulmanos a famílias respeitáveis e abastadas com íntimos laços governamentais. Rupa ficou conhecido como Dabir Khas, e foi nomeado Autoridade da Receita e Secretário do Tesouro por Hussain Shah, o rei de Gauda. Sri Vallabha, ou Anupama era Superintendente-Chefe da Real Casa da Moeda. Foram todos bem remunerados pelo Shah por seus serviços, que providenciou para que recebessem grandes riquezas. Segundo os costumes védicos, se nos associamos com muçulmanos, ficamos contaminados e devemos realizar rituais purificatórios. Sanatana Goswami sempre se associava com muçulmanos sem prestar muita atençäo aos costumes da época, e portanto considerava-se caído de sua alta casta brahmana. Por isso sempre se apresentava como caído, embora isso fosse apenas uma demonstraçäo de sua grande humildade Vaisnava pela qual foi celebrado no Chaitanya-Charitamrita e elogiado pelo próprio Sri Chaitanya Mahaprabhu.

Sri Rupa e Sanatana fizeram seu escritório central em Ramakeli, que fora estabelecida como Capital de Bengala em 1486 pelo Sultäo Barbak. Atualmente, Ramkeli localiza-se no distrito Maldah da Bengala ocidental, perto da fronteira da Bengala com o Ganges, e dista umas cinco milhas da estaçäo ferroviária Maldah. Ramkeli também era lar de muitos devotos famosos, inclusive Sri Nrishingha, filho de Advaita Acharya.

De Bengala e de fora vinham muitos sábios e brahmanas altamente eruditos para ver Rupa e Sanatan em seus lares. De Karnataka vieram muitos brahmanas que se estabeleceram próximos à casa de Rupa e Sanatan. A casa residencial deles ficava perto das margens do Ganges, próximo a uma cidade chamada Bhattavari. De Navadwip Dham muitos brahmanas e pandits também vieram para Ramakeli para servir Rupa e Sanatana de diversos modos.

Sri Rupa e Sanatana eram estudiosos cultos - eram as jóias reais dentre os eruditos Gaudiya Vaisnavas. Seu mestre em filosofia e escrituras tinha sido o irmäo do grande Sarvabhauma Bhattacharya - Vidyavachaspati, que ensinou a Sanatana Goswami todas escrituras védicas. A devoçäo dele por Vidyavachaspati é indescritível. Vidyavachaspati frequentemente ficava em Ramakeli.

Os três irmäos, Sanatana, Rupa e Anupama estavam absorvidos em bhava-bhakti desde a tenra infância. Lembrando de Vrindavana, costumavam brincar na floresta de árvores tamal, keli-kadamba, e tulasi que cercavam a casa na infância deles. Entremeados às árvores havia laguinhos que chamaram de Radha Kunda e Shyama Kunda. Assim ficavam constantemente absortos em prestar serviço a Sri Madana Mohana. Ouvindo sobre os maravilhosos passatempos de Sri Gaurasundara na próxima Navadwipa, ficaram ansiosos por algum dia obter Seu darshan. Mas sua voz interna lhes dizia: "Sejam pacientes. Breve teräo o darshan daquele grande Senhor que é o salvador dos caídos."

Quando Sri Sanatana ainda era jovem teve um sonho estranho. Em seu sonho via um brahmana. Este dava-lhe o Srimad-Bhagavatam. Ao receber o Bhagavata, os pelos de Sanatana se arrepiavam em êxtase. Seu sonho quebrou. Quando acordou e viu que o brahmana e o Bhagavata tinham sumido, ficou muito deprimido. Na manhä seguinte, depois de tomar banho, enquanto estava sentado para adorar o Senhor, apareceu um brahmana, carregando o Bhagavata. De pé próximo a Sanatana, o brahmana disse: "Toma esse Bhagavat. Sempre estude-o e toda perfeiçäo será tua." Dizendo isso, o brahmana deu-lhe o Bhagavat e foi-se.

Ao receber o tesouro do sagrado Bhagavata, o êxtase de Sri Sanatana näo tinha limites. A partir daquele dia, Sri Sanatana só estudava o Bhagavata, deixando de lado outras escrituras, sabendo que o Bhagavata era a essência de todas escrituras. Em seu krishna-lila-stava, ele escreveu:

madeka bandho matsangin
madguro man mahadhana
man nistaraka madbhagya
madananda namo'stu te

Sanatana Goswami oferece seus respeitos ao Bhagavata, dizendo: "ó sagrado Bhagavata, és minha única companhia, meu único amigo, e meu guru. És meu maior tesouro, meu salvador pessoal, o emblema de minha mais elevada fortuna, a própria forma do êxtase. Ofereço minhas reverências a ti."

Quando ouviram as notícias de que Sri Chaitanya, a vida e tesouro de Nadia, havia tomado sannyasa e ido para Puri, Rupa e Sanatana desmaiaram. Nunca tendo visto Mahaprabhu em Navadwip, Rupa e Sanatana ficaram desesperançados ao ouvir que Ele estava deixando Bengala para sempre. Naquele momento ouviram uma voz divina dizendo: "Näo fiquem em ansiedade. O misericordioso Sri Gauranga breve virá até aqui."

Depois de passar cinco felizes anos sediado em Puri, Mahaprabhu desejava retornar a Bengala para tomar darshan do Ganges e ver Sua mäe, e assim partiu para Navadwipa. A alegria dos devotos era ilimitada; obtendo a oportunidade de ver seu filho após tanto tempo, Sachidevi esqueceu completamente de si mesma. Durante muitos dias cozinhou e Gaurasundara deliciou-Se com seus pratos. Mahaprabhu ficou na casa de Advaita em Shantipura durante alguns dias e entäo continuou rumo a Ramkeli Gram. Isso está registrado no Sri Chaitanya Charitamrita: "Quando Sri Chaitanya Mahaprabhu começou a proseguir de Kuliya para Vrindavana, milhares de homens estavam junto com Ele e todos eram devotos. Onde quer que o Senhor visitasse, multidöes de incontáveis pessoas vinham para vê-Lo. Quando O viam, toda infelicidade e lamentaçäo delas desaparecia. Onde quer que o Senhor tocasse o solo com Seus pés de lótus, imediatamente vinham pessoas e se juntavam na poeira. De fato, juntavam-se tanto que formaram muitos buracos na estrada. O Senhor eventualmente chegou ao vilarejo chamado Ramakeli. Esse vilarejo está situado na fronteira da Bengala e é muito seleto. Enquanto realizava sankirtan em Ramakeli Grama, o Senhor dançava e às vezes perdia a consciência devido ao amor por Deus. Enquanto estava em Ramakeli-grama, um ilimitado número de pessoas veio para ver Seus pés de lótus; quando o rei maometano de Bengala ouviu sobre a influência de Mahaprabhu em atrair incontáveis pessoas, ficou muito espantado e passou a falar o seguinte: "Tal pessoa, que é seguido por tanta gente sem dar-lhes caridade, deve ser um profeta. Certamente consigo perceber tal fato." O rei maometano ordenou ao magistrado: "Näo perturbe esse profeta hindu por inveja. Permita que Ele realize Sua própria vontade onde quer que deseje."

A auspiciosa visita de Mahaprabhu foi bem recebida em Ramkeli, onde todos devotos foram sobrepujados pelo êxtase. De todas direçöes vinham milhares de pessoas para ver Sri Chaitanya Mahaprabhu. Quando o rei ficou um pouco preocupado com esse fenômeno e começou a fazer perguntas sobre Mahaprabhu, seu conselheiro, Keshava Chatri, que era devoto, disse-lhe: "Sim, ouvi sobre esse sannyasi mendicante. Está mendigando aqui e acolá com quatro seguidores." O rei disse: "Que estás dizendo! Milhares e milhares de pessoas seguem-No onde quer que vá." Ao ouvir isso, Keshava Chatri sorriu um pouco e insinuou que isso era grande exagero. Ouvindo as palavras de Keshava Chatri, a mente do Shah näo se sentiu pacificada. Perguntou a Rupa Goswami sobre tudo isso. Rupa Goswami disse: "Porque estás perguntando a mim? É melhor questionar a própria mente. Porque és o rei das pessoas, és o representante do Senhor Supremo. Portanto podes compreender melhor que eu, quem é Chaitanya Mahaprabhu." Depois de ouvir isso, o Shah apaziguou-se.

Sob uma árvore às margens do Ganges, Sri Chaitanya Mahaprabhu parou para descansar. Estava acompanhado apenas de Seus associados mais íntimos. A tardinha, Sanatana Goswami e Rupa Goswami chegaram lá. Encontraram-se com Nityananda e Haridas Thakura, que informaram Mahaprabhu sobre a chegada deles. Em grande humildade, os dois pegaram maços de palha entre os dentes e, cada qual amarrando um pano em volta do pescoço, caíram como varas diante do Senhor. Ao ver Mahaprabhu, Rupa e Sanatan ficaram mais que jubilosos e começaram a chorar de humildade. O Senhor pediu que se levantassem e abençôou-os. Eles se levantaram e, pegando palha entre os dentes, humildemente ofereceram suas oraçöes de mäos postas. Disseram: "Todas as glórias a Sri Krishna Chaitanya, o mais misericordioso salvador das almas caídas. Todas as glórias ao Senhor." Entäo submeteram-se dizendo: "Senhor, pertencemos à classe mais baixa de seres humanos, e nossa associaçäo e ocupaçäo também säo do tipo mais baixo. Portanto näo podemos nos apresentar a Ti. Sentimo-nos muito envergonhados por estar de pé aqui diante de Ti. Querido Senhor, encarnaste para salvar as almas caídas. Deves considerar que nesse mundo näo há ninguém täo caído quanto nós. Salvaste os dois irmäos Jagai e Madhai, mas para salvá-los näo precisaste fazer muita força. Os irmäos Jagai e Madhai pertenciam à casta brahmana, e a residência deles era o sagrado local de Navadwipa. Nunca serviam pessoas de classe baixa, tampouco eram assessores de pessoas abomináveis. Jagai e Madhai só tinham um defeito - estavam viciados no pecado. Contudo montes de pecado säo queimados até as cinzas simplesmente através de namabhasa: o pálido reflexo do santo nome. Jagai e Madhai pronunciaram Teu nome em blasfêmia, porém o fato de emitirem o divino nome salvou-os. Somos milhöes de vezes inferiores a Jagai e Madhai. Somos mais degradados, caídos e pecaminosos que eles. Na verdade, pertencemos à casta de comedores de carne, pois somos servos de comedores de carne. Porque nos associamos com eles tornamo-nos inimigos das vacas e brahmanas."

Dessa maneira, os dois irmäos humildemente submeteram que devido a suas atividades abomináveis agora estavam com suas mäos e pescoço atados pelo pecado e chafurdando na nojenta vala da gratificaçäo sensorial.

Continuaram seu apelo a Sri Chaitanya Mahaprabhu: "Ninguém no universo é suficientemente poderoso para nos salvar. Tu és o salvador das almas caídas. Só Tu podes nos salvar. Se salvares pecadores caídos tal como nós, a força de Tua misericórdia se tornará famosa pelo mundo. Vieste para salvar os mais caídos. Somos os mais caídos. Se mostrares misericórdia para conosco, entäo o poder de Tua misericórdia será testemunhado por todos e Tua missäo de salvar os mais caídos será um grande sucesso. Embora sejamos desqualificados para receber Tua misericórdia, ainda assim é o desejo de nosso coraçäo."

Sri Chaitanya Mahaprabhu disse: "Meus queridos Dabhir Khasa e Sakara Mallika: vocês dois säo Meus servos antigos. A partir de hoje Seus nomes seräo Rupa e Sanatana. Agora por favor deixem essa demonstraçäo de humildade, pois isso corta Meu coraçäo. Vocês Me escreveram muitas cartas bondosas e humildes, das quais pude compreender tudo sobre vocês. A fim de instruí-los enviei um verso que dizia: "Se uma mulher tiver um amante tratará de realizar seus deveres domésticos até com mais cuidado que antes, a fim de que ninguém saiba, o tempo todo pensando em seu amante e saboreando aquela doçura em seu coraçäo." Meu único motivo para vir a Bengala era para ver vocês dois. Todos perguntam porque vim a Ramakeli. Ninguém sabe que vim aqui só para vê-los. É bom que tenham vindo visitar-me. Agora podem retornar a seus lares. Näo tenham medo de nada: nascimento após nascimento fostes Meus eternos servos. Tenho certeza que Krishna brevemente os salvará."

O Senhor entäo abençôou-os colocando Suas mäos sobre suas cabeças. Sri Rupa e Sri Sanatana entäo tocaram os pés de lótus do Senhor com suas cabeças. Quando todos devotos viram a misericórdia do Senhor para com Rupa e Sanatana, ficaram alegres e começaram a cantar o santo nome de Hari. Muitos dos associados pessoais do Senhor estavam lá, inclusive Nityananda, Haridas Thakura, Srivasa Thakura, Gadadhara Pandit, Mukunda, Jagadananda, Murari, e Vakreshvara Pandit. Seguindo as instruçöes do Senhor, Sri Rupa e Sri Sanatana tocaram os sagrados pés de todos esses grandes devotos, que ficaram felizes demais e congratularam os dois irmäos por obter a misericórdia do Senhor. Naquele momento também Sri Vallabha recebeu a misericórdia do Senhor e ficou conhecido como Anupama. Após pedir permissäo aos devotos ali, Sri Rupa e Sanatana prepararam-se para partir, mas antes de fazê-lo submeteram uma proposta aos pés de lótus do Senhor.

Disseram: "ó Senhor, embora o governante da Bengala, Hussein Shah, tenha alguma consideraçäo por Ti, Tua missäo aqui agora está completa; portanto humildemente pedimos-Te para partir, para que näo aconteça algum infortúnio a Ti e aos devotos. Pode ser que o rei tenha algum respeito por Ti, mas é um comedor de carne e um muçulmano e assim naturalmente é inimigo das vacas e dos brahmanas. Näo se pode confiar muito nele. É nossa humilde consideraçäo que näo há necessidade de ir a Vrindavan com täo grande multidäo. Vrindavan é um local de simplicidade e beleza rústica, näo pompa e grandiosidade. Submetemos que é melhor näo fazer uma peregrinaçäo até lá com centenas e milhares de seguidores."

Após falar dessa maneira, Sri Rupa e Sanatana ofereceram seus respeitos aos pés de lótus do Senhor e foram para casa. Sri Chaitanya Mahaprabhu entäo decidiu deixar aquele vilarejo. Na manhä seguinte partiu para Kanai Natashala, onde viu muitas pinturas dos passatempos de Krishna que ali ficavam expostas. Naquela noite considerou a proposta de Sanatana de näo ir a Vrindavan com uma grande multidäo. Pensou: "Se Eu for a Vrindavan com tanta gente, a doçura de sua atmosfera de simplicidade e beleza rústica será arruinada. Devo ir a Vrindavan sozinho ou com apenas uma outra pessoa. Dessa forma Minha peregrinaçäo a Vrindavan será muito bela." Pensando dessa maneira, o Senhor retornou a Jagannatha Puri.

O Chaitanya Charitamrita (M.L. 19) descreve como Sanatan Goswami conseguiu livrar-se de seus deveres governamentais e escapar da prisäo para juntar-se a Sri Rupa em Vrindavan. Alegando doença deixou seu posto para estudar o Bhagavata com devotos e brahmanas em casa. Quando um médico fez o Shah atentar para isso, este foi até Sanatana e exigiu que o acompanhasse até Orissa. Quando Sanatana se recusou, foi aprisionado. Sanatana Goswami utilizou um dinheiro enviado por Rupa Goswami e escapou subornando seu carcereiro. Entäo foi para Benares para se encontrar com Chaitanya Mahaprabhu. A caminho Sanatana parou num hotel com seu servo Ishan, e após perceber que o dono do hotel planejava matá-los pelo ouro que Ishan levava, Sanatan fez com que Ishan pagasse ao hoteleiro sua última moeda, e implorou por seu auxílio para atravessar a selva. O hoteleiro ficou comovido e, sendo líder dos dacoítas (seita de ladröes) locais, ajudou-os a atravessar a selva e as montanhas Hazaribag. Separando-se da companhia de Ishan, continuou para encontrar seu cunhado, Sri Kanta. Vendo que seu cunhado se tornara fugitivo e mendicante, Sri Kanta pediu que Sanatan ficasse com ele, porém Sanatan recusou. Na partida de Sanatana Goswami, Sri Kanta deu a seu cunhado uma manta de lä fina.

Finalmente Sanatana chegou a Benares e encontrou Sri Chaitanya na casa de Chandrashekhara. O Senhor ordenou-lhe que raspasse sua barba e cabelo comprido, e assim Sanatana raspou a cabeça e adotou a vestimenta de um babaji, aceitando pano velho de Tapan Mishra. Quando pode compreender que o Senhor desaprovava um babaji com roupa de mendicante usando uma manta de lä cara e fina, trocou a manta com um brahmana que encontrou no Ganges, por uma colcha rasgada. O Senhor ficou satisfeito com a humildade e submissäo de Sanatana e o instruiu durante algum tempo na ciência da devoçäo.

Naquela época, elaborou sobre a posiçäo da alma no mundo material e a natureza constitucional da alma como serva eterna de Krishna. Explicou as diferentes energias de Krishna - svarupa-shakti, maya-shakti, e tatastha-shakti. Descreveu as posiçöes relativas de karma, jnana, e bhakti relatando a parábola de Sarvajna, o astrólogo. Mostrou como todas escrituras possuem Krishna e seu serviço como meta. Entäo Sri Chaitanya descreveu a posiçäo constitucional de Krishna como Suprema Personalidade de Deus. Discutiu as diferentes formas, qualidades, expansöes plenárias, e avatars do Senhor. Explicou os mundos espirituais de Goloka e Vaikuntha, e descreveu a opulência do Senhor em Vaikuntha e Sua doçura em Vrindavana. Discutiram a ilusäo de Brahma. Depois disso Chaitanya Mahaprabhu descreveu o meio de se conseguir krishna-prema, e os dois tipo de jivas, e explicou como karma, jnana, e yoga divorciadas de bhakti säo inúteis. Descreveu os seis tipos de rendiçäo e mostrou a inutilidade de varnashrama sem Krishna. Falou sobre a divina misericórdia de Krishna e explicou como Krishna aparece como diksha-guru, shiksha-guru, e chaitya-guru a fim de iluminar as almas rendidas. Explicou o desenvolvimento da fé, as três graduaçöes de devotos, as vinte e seis qualidades de um Vaisnava puro e as três características distintas de um verdadeiro Vaisnava. A bondade como característica primária dos Vaisnavas foi descrita, usando os exemplos de Haridasa Thakura e Vasudeva Datta. Mahaprabhu explicou que associaçäo com sadhus é indispensável a krishna-bhakti e krishna-prema, e que má associaçäo é deletéria ao desenvolvimento do amor divino. O significado da rendiçäo e auto-abnegaçäo foi discutido, bem como as características distintas de uma alma liberada.

Naquela época Mahaprabhu explicou as duas divisöes de sadhana-bhakti: vaidhi-sadhana-bhakti e raganuga-sadhana-bhakti. Os sessenta e quatro ramos de sadhana-bhakti foram descritos com ênfase especial sobre os cinco mais importantes: associaçäo com devotos, cantar do santo nome, ouvir Srimad-Bhagavatam, adoraçäo à Deidade, e viver num local sagrado. Os nove diferentes métodos de devoçäo e os devotos que alcançaram a perfeiçäo, também foram discutidos. Depois disso explicou o desenvolvimento interno e externo de raganuga-sadhana-bhakti. Depois discutiu bhava-bhakti e prema-bhakti junto com os nove estágios do sadhana, as características de um bhava-bhakta e as de um prema-bhakta. Entäo, o Senhor explicou as sessenta e quatro qualidades de Krishna, o significado de renúncia verdadeira e falsa. Também explicou a importância essencial de associar-se com santos e, a título de ilustraçäo, contou a história de Narada e o caçador. Assim, Sri Chaitanya Mahaprabhu explicou a posiçäo transcendental de Krishna, a natureza da jiva, a natureza do serviço devocional, e a perfeiçäo máxima do amor por Deus. E ainda explicou o verso atmarama do Srimad-Bhagavatam de sessenta e uma formas diferentes.

Após esclarecer Sanatana sobre todas verdades de bhakti, Sri Chaitanya Mahaprabhu ordenou que ele escrevesse livros sobre serviço devocional; que estabelecesse as práticas e comportamento corretos para os devotos, instalasse Deidades e revelasse os métodos corretos de adoraçäo à Deidades, e escavasse os sagrados locais de peregrinaçäo perdidos em Vrindavana.

Os Livros de Sanatana Goswami

Entre os livros importantes por Sanatana Goswami está o Hari-Bhakti-Vilasa, que explica os deveres e comportamento corretos para Vaisnavas. No Chaitanya-charitamrita, Krishna dasa Kaviraja Goswami registra as instruçöes de Mahaprabhu para Sanatana sobre a compilaçäo do Hari-Bhakti-Vilasa. Kaviraja Goswami escreve (C.C. M.L. 29.326-345): "De mäos postas, Sanatana Goswami disse: "Meu Senhor, mandaste que eu escrevesse diretrizes sobre as atividades dos Vaisnavas. Sou uma pessoa de nascimento muito baixo. Näo tenho conhecimento sobre bom comportamento. Como será possível eu escrever diretrizes autorizadas sobre atividades Vaisnavas?" Sanatana Goswami entäo pediu ao Senhor: "Por favor diga-me como posso escrever esse difícil livro sobre comportamento Vaisnava. Por favor manifesta-Te em meu coraçäo. Se por favor Te manifestares em meu coraçäo e pessoalmente me dirigires ao escrever esse livro, entäo, embora seja de nascimento caído, poderei esperar conseguir escrevê-lo. Podes fazer isso porque és a própria Suprema Personalidade de Deus, e o que quer que dirijas é perfeito."

Sri Chaitanya Mahaprabhu respondeu: "Tudo que quiseres fazer conseguirás realizar corretamente através do favor do Senhor Krishna. Ele manifestará o verdadeiro significado. Porque Me pediste uma sinopse, por favor ouça estas poucas indicaçöes. No início deve-se tomar refúgio num mestre espiritual fidedigno. Em teu livro deve haver as características do guru fidedigno e do discípulo fidedigno. Entäo, antes de aceitar um mestre espiritual, pode-se ter certeza da posiçäo do mestre espiritual. Semelhantemente, o mestre espiritual também poderá ter certeza da posiçäo do discípulo. A Suprema Personalidade de Deus, Krishna, deve ser descrita como o objeto adorável, e deves considerar o bija-mantra para adoraçäo de Krishna, Rama ou qualquer outra expansäo da Suprema Personalidade de Deus. Deves discutir as qualificaçöes necessárias para receber um mantra, a perfeiçäo do mantra, a purificaçäo do mantra, iniciaçäo, deveres matinais, a lembrança do Senhor Supremo, limpeza, e lavar a boca e outras partes do corpo. De manhä deve-se regularmente escovar os dentes, tomar banho, oferecer oraçöes ao Senhor e oferecer reverências ao mestre espiritual. Deve-se prestar serviço ao mestre espiritual e pintar o corpo em doze locais com tilaka. Deve-se estampar os santos nomes do Senhor no corpo, ou entäo os símbolos do Senhor, tais como o disco e a maça. Depois disso, deves descrever como se deve decorar o corpo com gopichandana, usar contas no pescoço, coletar folhas de tulasi de uma árvore de tulasi, lavar suas vestes e limpar o altar, limpar a própria casa ou apartamento, e ir ao templo e tocar o sino só para chamar a atençäo do Senhor Krishna. Também descreva adoraçäo à Deidade, em que se deve oferecer alimento a Krishna pelo menos cinco vezes ao dia. No momento devido, deve-se colocar Krishna na cama. Também deves descrever o processo de oferecer arati e a adoraçäo do Senhor segundo a lista de cinco, dezesseis, ou cinquenta ingredientes. As características das Deidades devem ser discutidas bem como as da shalagrama-shila. Também deves discutir visitas às Deidades no templo e excursöes pelos locais sagrados como Vrindavana, Mathura e Dvaraka. Deves glorificar o santo nome e explicar a importância de cuidadosamente abandonar as ofensas ao cantar o santo nome. Deves explicar os sintomas de um Vaisnava e como abandonar todo tipo de seva-aparadha, ofensas na adoraçäo às Deidades. Os elementos de adoraçäo, tais como água, concha, flores, incenso e lamparina, devem ser descritos. Também deves mencionar o cantar baixinho, oferecer oraçöes, circumambular, e oferecer reverências. Tudo isso deve ser cuidadosamente estudado. Outros ítens a serem considerados säo o método de realizar purascharana, tomar krishna-prasada, abandonar a desgustaçäo de alimentos näo-oferecidos e nunca blasfemar os devotos do Senhor. Deve-se conhecer os sintomas de um devoto e como se associar com devotos. Deve-se saber satisfazer o devoto prestando serviço, e deve-se saber abandonar a associaçäo dos näo-devotos. Também se deve regularmente ouvir o recitar do Srimad-Bhagavatam. Deves descrever os deveres ritualísticos de cada dia, e os deveres quinzenais - especialmente observar o jejum de Ekadashi, que é a cada quatorze dias. Também deves descrever os deveres de cada mês, especialmente observar cerimônias como Janmastami, Ramanavami, e Nrsimha-chaturdasi. Deves recomendar a prática de Ekadashi puro. Tudo que disseres sobre comportamento Vaisnava, estabelecer templos Vaisnavas e Deidades e tudo mais, deve ser apoiado por evidência dos Puranas. Deves fornecer instruçöes gerais e específicas sobre comportamento e atividades de um Vaisnava. Deves fazer um esboço do que deve ser feito e do que näo. Tudo isso deve ser descrito como regulamentos e etiqueta. Assim, fiz uma sinopse dos princípios regulativos Vaisnavas. Fiz esse resumo só para dirigir-te um pouco. Quando escrever sobre esse assunto, Krishna o auxiliará despertando-o espiritualmente."

O Hari-Bhakti-Vilasa baseia-se em notas coligidas por Gopal Bhatta Goswami e é conhecido como vaisnava-smriti. Se examinamos seu conteúdo, veremos que este possui próxima conformidade com as instruçöes dadas a Sanatana Goswami por Sri Chaitanya. Srila Bhaktivedanta Swami sumariza o conteúdo a seguir: "Esse vaisnava-smriti-grantha foi concluído em vinte capítulos, conhecidos como vilasas. No primeiro vilasa há uma descriçäo de como se estabelece uma relaçäo entre o mestre espiritual e o discípulo, e se explicam mantras. No segundo vilasa, descreve-se o processo de iniciaçäo. No terceiro vilasa, os métodos de comportamento Vaisnava, com ênfase na limpesa, constante lembrança da Suprema Personalidade de Deus, e do cantar dos mantras dados pelo mestre espiritual iniciador. No quarto vilasa vemos descriçöes de samskara, o método reformatório; tilaka, a aplicaçäo das doze tilakas em doze lugares do corpo; mudra, marcas no corpo; mala, cantar com as contas; e guru-puja, adoraçäo do mestre espiritual. No quinto vilasa, somos instruídos em como fazer um local para meditaçäo, e há descriçöes de exercícios respiratórios, meditaçäo e adoraçäo da representaçäo shalagrama-shila do Senhor Vishnu. No sexto vilasa, vem as práticas requeridas para convidar a forma transcendental do Senhor e banhá-Lo. No sétimo vilasa, somos instruídos sobre como coletar flores usadas na adoraçäo do Senhor Vishnu. No oitavo vilasa, há uma descriçäo da Deidade e instruçöes sobre como colocar incenso, ascender lamparinas, fazer oferendas, dançar, tocar música, bater tambores, enguirlandar a Deidade, oferecer oraçöes e reverências e contrabalançar ofensas. No nono vilasa, há descriçöes dos devotos do Senhor (Vaisnavas ou pessoas santas). No décimo primeiro vilasa, há descriçöes elaboradas de adoraçäo à Deidade e das glórias do santo nome do Senhor. Somos instruídos sobre como cantar o santo nome da Deidade, e há discussöes sobre ofensas cometidas enquanto se canta o santo nome, junto com métodos para se obter alívio de tais ofensas. Também há descriçöes das glórias do serviço devocional e do processo de rendiçäo. No décimo segundo vilasa, descreve-se Ekadashi. No décimo terceiro vilasa, discute-se o jejum, bem como a observância da cerimônia de maha-dvadasi. No décimo quarto vilasa, säo esboçados diferentes deveres para os diversos meses. No décimo quinto vilasa, tem instruçöes sobre como observar jejum de Ekadashi sem nem mesmo beber água. Também há descriçöes de marcar a ferro o corpo com os símbolos de Vishnu, e discussöes sobre observaçäo de chaturmasya durante a estaçäo chuvosa, e ainda sobre Janmastami, Parsviakadashi, sravana-dvadasi, Rama-navami, e Vijayi-dashami. O décimo sexto vilasa discute deveres a serem observados no mês de Kartikka (outubro-novembro), ou mês de Damodara, ou Urja, quando se oferece lamparinas na sala das Deidades ou acima do templo. Também temos descriçöes sobre Govardhana-puja e Ratha-yatra. O décimo sétimo vilasa discute preparativos para adoraçäo às Deidades, o cantar do maha-mantra, e o processo de japa. No décimo oitavo vilasa as diferentes formas de Sri Vishnu säo descritas. No décimo nono vilasa se discute o estabelecimento da Deidade e os rituais observados para banhar a Deidade antes da instalaçäo. No vigésimo vilasa se discute a construçäo de templos, referindo-se aos construídos pelos grandes devotos. O comentário de Sri Sanatana Goswami ao Hari-Bhakti-Vilasa se chama Dig-Darshini-Tika.

Entre os muitos livros importantes compilados por Sanatana Goswami está o Brihad-Bhagavatamritam. Enquanto o Hari-Bhakti-Vilas se expande sobre os ensinamentos de Mahaprabhu a Sanatana referente comportamento e ritual Vaisnava, Brihad-Bhagavatamrita analisa a ontologia e metafísica dos ensinamentos de Mahaprabhu. No Brihad-Bhagavatamritam, Sanatana Goswami registra a conversa que teve lugar entre Pariksit Maharaja e sua mäe Uttara depois que ele ouvira o Bhagavata de Shukadeva. Ela pede que ele explique a essência do Bhagavatam, e Pariksit Maharaja começa a contar a história da busca de Narada pelo devoto de Krishna mais afortunado e íntimo. Essa parte da conversa revela o grau de intimidade no serviço devocional. Progredindo daqueles devotos cuja bhakti está misturada com karma (Brahma) e jnana (Shiva), Narada passa por shanta-rasa (Prahlada), dasya-rasa (Hanuman), sakhya-rasa (Arjuna) e finalmente ao devoto mais querido de Krishna, Uddhava, que aspira a uma posiçäo em Vrindavan e que revela o amor das gopis por Krishna como sendo a última palavra em bhakti.

A segunda parte do Brihad-Bhagavatamrita revela a história de gopa-kumara, um menino vaqueiro errante que, tendo recebido iniciaçäo no mantra através de um residente de Vrindavan, passa por sucessivos sistemas planetários, explorando diferentes níveis de consciência numa odisséia espiritual que o leva da terra através dos planetas celestiais até Brahmaloka, Viraja, o brahmajyoti, Shivaloka, Vaikuntha, Ayodhya, Dwarka, Mathura, e finalmente Goloka, onde percebe sua posiçäo eterna nos passatempos de Krishna em sakhya-rasa. No Brihad-Bhagavatamritam há descriçöes de devotos, devotos íntimos, devotos muito íntimos e devotos completos. Segundo Sri Bhaktivedanta Swami: "A segunda parte descreve as glórias do mundo espiritual, conhecidas como Goloka-mahatmya-nirupana, bem como o processo de renúncia ao mundo material. Também descreve verdadeiro conhecimento, serviço devocional, o mundo espiritual, amor por Deus, alcançar o destino da vida e a bem-aventurança do mundo espiritual. Assim temos sete capítulos em cada parte, quatorze ao todo." Sanatana Goswami Prabhu também representa os ensinamentos de Sri Chaitanya Mahaprabhu em seu comentário sobre Srimad-Bhagavatam. Sobre esse comentário, Sri Bhaktivedanta Swami escreve: "Dasama-tippani é um comentário sobre o Décimo Canto do Srimad-Bhagavatam. Outro nome para esse comentário é Brihad-vaisnava-toshani-tika. No Bhakti-Ratnakara é dito que Dasama-tippani foi concluído em 1476 Sakabda... Sanatana Goswami deu seu comentário (Brihad)Vaisnava-Tosani a Srila Jiva Goswami para que o editasse, e Srila Jiva Goswami editou-o sob o nome de Laghu-tosani. Tudo que imediatamente colocou em escrita ficou pronto no ano Sakabda 1504. Sanatana Goswami também compôs krishna-lila-stava que é conhecido como Dashama-charit e descreve os passatempos de Krishna até Mathura.

Após encontrar-se com Sri Chaitanya Mahaprabhu, e receber as instruçöes que formariam a base das escrituras que mais tarde compilaria, Sanatana Goswami foi a Vrindavan pela estrada principal, e quando chegou a Vrindavan encontrou com Subuddhi Raya. Ao chegar a Vrindavan, descobriu que Rupa Goswami já partira. Entäo foi a Jagannatha Puri por Jharikhanda, a selva de Uttara Pradesh. Após contrair uma doença de pele que ele achava ser ofensiva ao toque do Senhor, decidiu abandonar a vida jogando-se sob as rodas do carro de Ratha-Yatra de Jagannatha, porém Chaitanya Mahaprabhu expressou Sua desaprovaçäo do suicídio e salvou Sanatana através de Sua misericórdia. Mais tarde Sanatana Goswami encontrou Haridas Thakura e soube do desaparecimento de seu irmäo Anupama.

O Chaitanya Charitamrita registra como, enquanto em Jagannatha Puri, Sanatana Goswami descreveu as glórias de Haridasa Thakura. Quando Jagadananda Pandit deu permissäo a Sanatana para partir para Vrindavan, Sri Chaitanya desaprovou, e glorificou as qualidades de Sanatana Goswami, ordenando que este permanecesse em Jagannatha Puri durante um ano. Mais tarde, quando Jagadananda Pandit foi a Vrindavan, Sri Chaitanya Mahaprabhu colocou-o sob a guia de Sanatana Goswami. Naquela época, Jagadananda Pandit ficou zangado com Sanatana por usar um turbante feito de um pedaço de pano vermelho que lhe fora dado por um outro sannyasi sem ser Sri Chaitanya, mas foi apaziguado pela profunda devoçäo de Sanatana. (Naquela ocasiäo, Sanatana comentou que pano vermelho é impróprio para sannyasis Gaudiya-Vaisnavas, pois é usado por seguidores mayavadis da escola impersonalista de Shankaracharya. Desde aquela época, por respeito pelas palavras de Sanatana Goswami, os sannyasis Gaudiya-Vaisnavas adotaram a cor açafräo para as vestes de renunciado). Quando Sanatana Goswami finalmente retornou a Vrindavan, foi reunido com Rupa Goswami, e ambos ali permaneceram para executar as ordens de Sri Chaitanya Mahaprabhu.

Sanatana Goswami e Madana Mohan

O Bhakti-Ratnakara descreve como Sanatana começou a adoraçäo de sua deidade Madana-Mohan. Entre as ordens de Mahaprabhu a Sanatana estava Sua instruçäo para estabelecer a adoraçäo da Deidade de Krishna. O Bhakti-Ratnakara descreve como Sri Sanatana Goswami, quando ficou em Vrindavan, começou a adoraçäo de Sri Madana-Mohan, também conhecido como Madana Mohana. Em Mahavana, próximo ao local de nascimento de Krishna em Vrindavana, Sanatana Goswami fez uma cabana de capim. Ali realizava seu bhajan diário. Certo dia, enquanto saiu para mendigar, chegou a um pequeno vilarejo às margens do Yamuna. Naquele momento Madana Mohana Dev estava brincando às margens do rio com uns menininhos gopas. Quando viu Sanatana, gritou: "ó Pai! Baba!" Com isso, veio correndo atrás de Sanatana Goswami e agarrou sua mäo dizendo: "Leve-Me contigo. Quero ir contigo."

"Menininho, porque quer ir comigo?"
"Quero ficar contigo."
"Se ficar comigo, que irás comer?"
"O que você come?"

"Só uns chapatis secos e arroz integral"
"Entäo também irei comer isso, Baba."
"Mesmo se pudesses comer assim, näo poderias ficar comigo. Deves ficar com Teu pai e mäe."
"Mas Baba! Quero ficar contigo."

Fazendo o menino compreender seus desejos, Sanatana mandou-O para casa, e entäo continuou suas rondas de mendigar.

Naquela noite, o menino apareceu-lhe num sonho. No sonho, o menino estava rindo repetidamente. Pegou na mäo de Sanatana e disse-lhe: "Baba! Meu nome é Madana Mohana. Amanhä virei até você!" Dizendo isso, Madana Mohana desapareceu, e com isso Sanatana acordou. Estava täo tomado pelo êxtase que sentiu como se sua alma fora roubada de seu corpo. Pensou: "Que foi que vi? Nunca vi um menino täo lindo." Sua mente encheu-se da lembrança de Sri Hari. Quando abriu a porta de seu kutir, achou de pé na soleira da porta uma maravilhosa murti de Sri Madana Mohana. Aquela deidade era täo linda que enchia as quatro direçöes com Sua refulgência.

Sanatana Goswami ficou estupefato durante algum tempo, mas após um tempinho, voltou à consciência, e entäo, seus olhos encheram-se de lágrimas de êxtase que gradualmente molhavam o solo abaixo. Depois disso, começou a adoraçäo da deidade, realizando uma cerimônia de abhisheka. Quando Rupa Goswami viu aquela maravilhosa deidade, encheu-se de prema.

Sri Sanatana costumava servir a deidade em sua própria humilde cabana de capim. Sri Rupa Goswami mandou a notícia desses eventos auspiciosos a Sri Chaitanya Mahaprabhu em Jagannatha Puri via mensageiro.

Após mendigar o dia todo, Sri Sanatana Goswami retornava a sua cabana de palha à tardinha e oferecia alguns chapatis secos a sua deidade, Madana-Gopala. As vezes também preparava um shak ou outro vegetal para acompanhar. Em todo caso, nunca preparava qualquer vegetal com óleo ou sal. A maior parte do tempo só conseguia oferecer chapatis. Como resultado, Sanatana ficava pesaroso, achando-se desqualificado para adorar a deidade devidamente. Mas näo podia arcar com despesas, pois Chaitanya Mahaprabhu lhe dera um serviço: compor escrituras devocionais. Naquela época, ele tinha que passar o dia inteiro coletando doaçöes. Quando teria tempo para sair e mendigar óleo e sal? A mente de Sri Sanatana Goswami estava cheia de tristeza. Como paramatma, o Senhor conhecia a mente de Sanatana. Madana Mohana pensou consigo mesmo: "Estou comendo chapatis secos, e como resultado a mente de Sanatana está muito infeliz. Ele quer Me servir com estilo real. Como resultado sente que seu serviço näo adianta nada."

Naquela época havia um abastado mercador da casta kshatriya chamado Sri Krishna Das Kapoor. Este estava a caminho de Mathura para fazer negócios. Estava descendo o Yamuna num grande barco. Quando seu barco ficou preso num banco de areia, e näo conseguia ver jeito de continuar, começou a pensar: "Que podemos fazer agora?" Entäo Krishna Das Kapoor ouviu da gente local que havia um grande sadhu vivendo em Vrindavan que poderia ajudar. Seu nome era Sanatana Goswami. Quando Krishna Das Kapoor veio vê-lo, Sanatana estava sentado em sua cabana, escrevendo, vestido só com uma tanga, seu corpo magro pela austeridade e renúncia. Sanatana ofereceu a seu visitante uma esteira de palha por assento, e tocando Krishna Das Kapoor com sua mäo, pediu que sentasse. Nisso Krishna Das Kapoor disse: "Baba! Me dá tua misericórdia."

Sanatana disse: "Sou só um mendigo. Que tipo de misericórdia posso dar-te?"

"Só oro pelas tuas bençäos. Meu barco prendeu num banco de areia no rio Yamuna e näo consigo ver jeito de livrá-lo."

"Näo sei de nada disso. Explique tudo a Madana Mohana."

Krishna Das Kapoor ofereceu seus dandavats diante da deidade de Madana Mohana e disse: "ó Madana Mohana Dev! Se me deres Tua misericórdia e livrares meu barco, entäo qualquer lucro que tiver com meus negócios darei a Ti para Teu seva."

Com essa oraçäo, Kapoor pediu permissäo para sair. Naquele dia aconteceu uma grande tempestade e a chuva jorrava dos céus, fazendo subir o nível das águas do Yamuna. Conforme as águas subiam mais e mais, o barco de Kapoor soltou do banco de areia e começou a descer o Yamuna. Krishna Das Kapoor pode entender que tudo isso era misericórdia de Madana Mohana. Teve belos lucros com seu carregamento, e doou tudo para construir um templo opulento para Sri Madana Mohana, inclusive com uma bhogashala onde comestíveis de primeira classe podiam ser estocados para o prazer do Senhor. A partir daquela época, Madana Mohana era servido em estilo real. Vendo esse serviço real de Madana Mohana, Sanatana Goswami ficou muito feliz. Logo depois disso, Sanatana Goswami aceitou Krishna Das Kapoor como seu discípulo e deu-lhe iniciaçäo. O templo Madana Mohan continua de pé até hoje em dia, e é um importante local de peregrinaçäo para todos Gaudiya Vaisnavas.

Ao discutir a importância da Deidade Madana Mohan, Bhaktivedanta Swami escreve: "Srila Sanatana Goswami é o mestre espiritual ideal, pois ele proporciona o abrigo dos pés de lótus de Madana Mohana. Embora se possa estar incapacitado de viajar na área de Vrindavan devido a esquecimento de seu relacionamento com a Suprema Personalidade de Deus, pode-se ter uma oportunidade adequada de ficar em Vrindavana e auferir todos benefícios espirituais pela misericórdia de Sanatana Goswami." Semelhantemente, Krishna Das Kaviraj Goswami ora: jayatam suratau pangor, mama manda-mater gati, mat-sarvasva-padambhojau, radha-madana-mohanau" - Glória aos todo-misericordiosos Radha-Madana-Mohana! Sou defeituoso e mal-orientado, contudo Eles säo meus diretores, e Seus pés de lótus säo tudo para mim. Kaviraja Goswami também diz: "Estas três Deidades de Vrindavan (Madana-Mohana, a Deidade de Sanatana Goswami, Govinda, a Deidade de Rupa Goswami, e Gopinatha, a Deidade de Raghunatha Das Goswami) absorveram o coraçäo e alma dos Gaudiya Vaisnavas (seguidores do Senhor Chaitanya). Eu adoro Seus pés de lótus, pois säo os Senhores de meu coraçäo." (C.C. A.L. 1.19) Traduzindo o comentário de Srila Bhaktisiddhanta Saraswati Prabhupada, Sri Bhaktivedanta Swami escreve:

"O autor do Sri Chaitanya Charitamrita oferece suas respeitosas reverências às três Deidades de Vrindavan chamadas Sri Radha-Madana-Mohana, Sri Radha-Govinda-Deva, e Sri Radha-Gopinathaji. Estas três Deidades säo a vida e alma dos Vaisnavas de Bengala, ou Gaudiya Vaisnavas, que seguem estritamente a linha de Sri Chaitanya Mahaprabhu via adoraçäo da Divindade cantando sons transcendentais destinados a desenvolver um sentido de nosso relacionamento transcendental com o Senhor Supremo, uma reciprocaçäo de doçuras (rasas) de afeto mútuo, e afinal, a obtençäo do sucesso desejado no serviço amoroso. Estas três Deidades säo adoradas em três diferentes estágios de nosso desenvolvimento. Os seguidores de Sri Chaitanya Mahaprabhu seguem escrupulosamente esses princípios de aproximaçäo.

"Gaudiya Vaisnavas concebem o objetivo máximo nos hinos védicos compostos de dezoito letras transcendentais que adoram Krishna como Madana-mohan, Govinda, e Gopijanavallabha. Madana-Mohana é Aquele que encanta Cupido, o deus do amor; Govinda é Aquele que satisfaz os sentidos e as vacas, e Gopijanavallabha é o amante trancendental das gopis. O próprio Krishna se chama Madana-Mohana, Govinda, Gopijanavallabha e incontáveis outros nomes conforme brinca em Seus diferentes passatempos com Seus devotos.

"As três Deidades - Madana-Mohana, Govinda e Gopijanavallabha - possuem qualidades bem específicas. Adoraçäo de Madana-Mohana está na plataforma de re-estabelecer nosso relacionamento esquecido com a Personalidade de Deus. No início de nossa vida espiritual, devemos adorar Madana-Mohana para que Ele possa nos atraír e anular nosso apego pela gratificaçäo sensorial material. Esse relacionamento com Madana-Mohana é necessário para devotos neófitos. Quando se deseja prestar serviço ao Senhor com forte apego, entäo se adora Govinda na plataforma de serviço transcendental. Govinda é o reservatório de todos prazeres. Quando pela graça de Krishna e dos outros devotos se chega à perfeiçäo no serviço devocional, pode-se apreciar Krishna como Gopijanavallabha (Gopinatha), a Deidade de prazer das moças de Vraja.

"O Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu explicou esse método de serviço devocional em três estágios, e portanto essas Deidades adoráveis foram instaladas em Vrindavan por diferentes Goswamis. Elas säo muito queridas para os Gaudiya Vaisnavas de lá, que visitam os templos ao menos uma vez por dia."

Bhaktivedanta Swami ainda traz mais compreensäo sobre o assunto em sua introduçäo ao Chaitanya Charitamrita: "No Chaitanya Charitamrita, Krishnadas primeiro presta suas reverências a Madana-Mohan vigraha (a Deidade de Sanatana Goswami), a Deidade que pode nos ajudar a progredir em consciência de Krishna. Na execuçäo da consciência de Krishna, nossa primeira tarefa é conhecer Krishna e nosso relacionamento com Ele. Conhecer Krishna é conhecer a nós mesmos e conhecer nosso próprio ser é saber nosso relacionamento com Ele. Como esse relacionamento pode ser aprendido através da adoraçäo de Madana-Mohana vigraha, Krishnadas Kaviraja primeiro estabelece seu relacionamento com Ele.

"Quando isso fica estabelecido, Krishnadas começa a adorar a Deidade funcional, Govinda (Deidade de Rupa Goswami)... Krishnadas Kaviraja Goswami mantém que as Deidades de Radha e Krishna nos mostram como servir Radha e Krishna. As Deidades de Madana-Mohana simplesmente estabelecem que "sou Teu servo eterno". Com Govinda, entretanto, há de fato aceitaçäo do serviço, e portanto Ele se chama a Deidade funcional. A Deidade Gopinatha é Krishna como controlador e proprietário das gopis. Ele atraiu todas gopis ou mocinhas vaqueiras através do som de Sua flauta, e quando vieram, dançou com elas... Krishna portanto é chamado de Gopinatha porque é o controlador amado das gopis."

Essa progressäo - Krishna ou Madana-Mohana, Radha-Govinda, Radha-Gopinatha - também se encontra nas três palavras-chave do gayatri de Krishna de dezoito sílabas. Isso se explica nos comentários de Jiva Goswami sobre o gayatri mantram, encontrado em seu cometário sobre o Brahma-Samhita traduzido por Srila Bhaktisiddhanta Saraswati Thakura. Ali, Jiva Goswami explica que o mantram possui seis elementos, e que "krishnaya" no mantram se refere a krishna-svarupa, ou na linguagem de Srila Bhaktisiddhanta, "o próprio ser de Krishna" (Madana-Mohana). O segundo elemento no mantram, ou segundo aspecto de Krishna a ser revelado (Govinda) é "krishnasya chinmaya vraja-lila-avilasa-svarupa", ou "a verdadeira natureza dos passatempos de Krishna em Vrindavana". O terceiro aspecto de Krishna é Gopijanavallabha (Gopinatha), o Krishna que é querido pelas gopis.

Por isso diz-se que no mantram "klim krishnaya govindaya gopijanavallabhaya etc." "krishnaya" é Madana-Mohana, o primeiro objeto de adoraçäo representado em sambandha-jnana, cujo acharya é Sri Sanatana Goswami. "govindaya" é o Senhor que está rodeado por Seu grupo de servidores íntimos. Porque Govinda aceita nosso serviço, Ele é a Deidade de abideya-tattva, cujo acharya é Rupa Goswami. "gopijanavallabhaya" no mantram se refere a Gopinatha, o controlador da grande dança da rasa na qual todas gopis tomam parte. Isso representa a meta máxima, ou prayojana, cujo acharya é Raghunatha Das Goswami. Raghunatha Das Goswami, o acharya da mais elevada meta da vida, aceita os pés de lótus de Sri Rupa (o abidheya-acharya) como sua mais elevada aspiraçäo e assim nos mostra o caminho para a meta mais alta. Rupa Goswami por seu turno sempre oferece seus respeitos a Sanatana Goswami (o sambandha-acharya), que considera como seu mestre espiritual.

Em seu comentário sobre as conversas entre Chaitanya Mahaprabhu e Ramananda Raya, Bhaktivinoda Thakura elabora mais sobre esse tema. Bhaktivedanta Swami traduz seu comentário como segue: "No mantram: klim kamadevaya vidmahe pushpabanaya dhimahi tan no nangah prachodayat, Krishna é chamado Kamadeva ou Madana-Mohana, a Deidade que estabelece nosso relacionamento com Krishna. Govinda ou pushpa-bana, que carrega uma flecha feita de flores, é a Personalidade de Deus que aceita nosso serviço devocional. Ananaga ou Gopijanavallabha, satisfaz todas gopis e é a meta máxima da vida."

Bhaktivinoda Thakura, em seu comentário Anubhashya sobre Chaitanya Charitamrita, explica mais essa versäo com base nos comentários de Jiva Goswami sobre o verso do Brahma-Samhita: atha venuninadasya trayimurtimayi gatih, sphuranti praviveshashu mukhabjani sarojajah. Esse verso descreve como a melodia da flauta de Sri Krishna foi ouvida por Brahma como o gayatri mantram. Srila Bhaktisiddhanta Saraswati Thakura traduz "trayimurti gatih" como significando que o gayatri é "a mäe dos três Vedas". Bhaktivinoda explica que nesse verso, as palavras trayimurti gatih significam que o som emanante da melodia da flauta de Sri Krishna, ou gayatri, é a base de sambandha, abhidheya e prayojana. Ele diz que "trimurtimayi" também indica as três murtis Madana-Mohana, Govinda, e Gopinatha. Ao ouvir esse som, Brahma tornou-se iniciado como duas-vezes-nascido, e ficou familiarizado com o oceano da verdade (sambandha, abhidheya, prayojana), depois do que pronunciou as famosas oraçöes "Govinda" que principiam com "cintamani prakara-sadmasu". Bhaktivinoda Thakura apoia essa visäo citando extansamente do Brahma-Samhita, do comentário de Jiva Goswami, de Vishvanatha Chakravarti Thakuram e do Gopal Tappani Upanishad, que todos corroboram a versäo acima.

A partir do acima exposto fica claro que Sanatana Goswami ocupa uma posiçäo especial na sampradaya Gaudiya Vaisnava. Ele é o acharya de sambhanda-jnana, ou conhecimento sobre nosso devido relacionamento devocional com Krishna. Além do mais, sua Deidade Madana-Mohan, nos auxilia a vencer a influência dos sentidos e fixar nossas mentes em serviço devocional. As literaturas de Sanatana Goswami säo um reservatório de néctar. Seu exemplo pessoal de humildade está além da descriçäo. Ele é um associado íntimo de Sri Chaitanya Mahaprabhu e Radha-Krishna, e o guru de Srila Rupa Goswami. Oremos todos pelo refúgio de seus pés de lótus.

Radharani Aparece Perante Sri Sanatana

No Bhakti-Ratnakara, está escrito que certo dia Sanatana Goswami foi ao Radha-Kunda para ver Sri Rupa e Sri Raghunatha Dasa Goswami. Quando viram Sanatana se aproximando, levantaram-se para oferecer-lhe respeito, e entäo ofereceram-lhe um assento. Com isso, os três iniciaram um ishta-gosthi, uma discussäo sobre Krishna. Sri Rupa Goswami havia escrito um stotram para Radharani intitulado Chatu-Pushpanjali - uma oferenda de quatro flores. Sri Sanatana Goswami leu os versos, e foi particularmente tocado por este:

navagorochana gauri, pravarendi varamvaram,
manistavaka-vidyoti-veni-vyalangana-phanam.

"ó Vrindavaneshvari! Ofereço meus respeitos a ti. Porque Tua pele é como ouro derretido, és conhecida como Gaurangi. Tua vestimenta é bela como a de um lótus azul. Tua longa trança de cabelo assemelha-se a uma serpente negra decorada com jóias." Quando Sanatana viu a linha "Teu cabelo trançado assemelha-se a uma serpente negra..." pensou sobre essa comparaçäo e disse: "Isso é uma metáfora lógica e razoável? Comparar o cabelo de Radharani a uma serpente?"

Naquela tarde Sri Sanatana foi ao Radha Kunda tomar seu banho. Depois de oferecer diferentes oraçöes reverentes ao Radha Kunda, ali tomou seu banho. Naquela hora, a pequena distância do Kunda, ele podia ver uns meninos e meninas gopis brincando, ao pé dumas árvores. Ao olhar rapidamente na direçäo deles, pode apenas discernir que logo atrás da cabeça de uma das meninas havia o que poderia ser uma trança pendurada longa, negra, mas que para Sanatana Goswami parecia muito mais com uma serpente mortal, oscilando de cá para lá, como que pronta para o bote. Naquele momento ele gritou: "ó jovem! Cuidado: tem uma cobra subindo por suas costas". A jovem mocinha, envolvida na alegria da brincadeira, nem ligou. Aparentemente nem conseguia ouví-lo. Diante disso ele foi correndo até lá e viu que a garota näo era outra senäo Sri Radha Thakurani. Quando os gopas e gopis o viram, explodiram em risos. Riram e riram durante algum tempo sem parar. Sri Sanatana Goswami quedou pasmado. Depois disso, pode entender a lógica da metáfora de Sri Rupa Goswami.

Krishna Traz Leite

O Bhakti-Ratnakara registra como certa vez Sri Sanatana Goswami estava sozinho na floresta às margens do Pavana Sarovara realizando seu bhajan num local ermo. Estivera jejuando de alimentos e bebidas. Como é a Superalma em todas entidades vivas, o Senhor podia entender tudo. Pensou: "Meu devoto está morrendo de fome. Näo posso tolerar isso." Com roupa de gopa, Krishna entrou na floresta onde Sanatana estava, levando um pote de leite. Chegou diante de Sanatana e disse: "Baba! Trouxe um leite para ti."

Sanatana disse: "Porque me trouxeste leite?"

"Näo estás comendo devidamente, é por isso."

"Como sabes que näo estou comendo nada?"

"Muitos gopas passaram aqui. Contaram que näo estás comendo."

"Porque näo vieram?"

"Eles tem muito trabalho em casa, por isso Me enviaram."

"És um menininho täo pequeno, porque tanto trabalho só para mim?"

"Näo, näo, pai. Näo é trabalho nenhum."

Tomando do pote de leite, Sanatana disse: "Senta-te, menininho. Vou terminar o leite e Te devolver o pote."

"Näo Baba. Näo posso sentar contigo. Tenho que ordenhar as vacas. Virei pegar o pote amanhä." Dizendo isso, o menino desapareceu, e Sri Sanatana ficou sem fala. Podia entender que isso era obra de Krishna. Começou a se afogar nas lágrimas que jorravam de seus olhos, enquanto bebia o leite. Daquele dia em diante, comia praticando madhukari, ou apenas aceitando um pouco de muitos diferentes residentes de Vrindavan. Gradualmente os residentes de Vrindavan construíram-lhe um kutir para que ali pudesse ficar.

Aceitando Serviço de Sri Radha

Certo dia Sri Rupa Goswami queria preparar um arroz doce para Sanatana Goswami, mas näo dispunha das provisöes para fazer arroz doce em seu kutir. Naquela hora, Aquela que proporciona realizaçäo do anseio interno dos devotos, Srimati Radha Thakurani, podia entender tudo. E assim, com roupa de jovem moça gopi, Ela trouxe leite, arroz, e açúcar para Rupa Goswami, dizendo: "Swamiji! Swamiji! trouxe-lhe um presente de arroz cru. Por favor aceite." Ouvindo as palavras da jovem moça, Sri Rupa Goswami abriu a porta de sua cabana e olhou para fora. Ali viu a linda jovem gopi com umas oferendas de alimento. Rupa Goswami disse: "Menininha! Porque vieste até aqui?"

"Swamiji! Só trouxe-lhe uns simples alimentos crus."

"Porque teve tanto trabalho só para mim?"

"Baba! Que trabalho? Só vim prestar um serviço humilde a uma pessoa santa."

Aceitando a oferenda de leite, açúcar e arroz cru, Rupa Goswami disse: "Jovenzinha, por favor sente enquanto vou guardar essas coisas." A garota disse: "Desculpe, mas tenho trabalho a fazer." Dizendo isso, a garota desapareceu. Quando Rupa Goswami se virou e viu que a menina se fora, ficou atônito com tudo isso. Por fim, preparou o arroz doce e ofereceu a bhoga para sua Deidade, Govindadeva. Depois de algum tempo, deu a prasada a Sanatana Goswami, que acabara de chegar. Enquanto honrava prasada, Sanatana Goswami experimentou um júbilo incomum e encantador. Perguntou a Sri Rupa: "Onde conseguiu esse leite e arroz?" Rupa Goswami disse: "Uma jovem garota gopi passou e me deu." Sanatana disse: "Uma jovem moça acabou de passar de repente e te deu esse leite e arroz? Rupa Goswami respondeu: "Sim, ela passou assim de repente. A coisa estranha é que eu estava justamente pensando "Como posso fazer um arroz doce para Sanatana?" e ela apareceu justamente como que por mágica, com esse leite e arroz e um açúcar." Ouvindo isso, lágrimas de prema começaram a cair dos olhos de Sanatana Goswami. Disse ele: "Näo consegues reconhecer algo quanto está bem diante de teus olhos? Era a própria Sri Radha Thakurani que te trouxe leite e arroz. Por aceitar serviço Dela estamos arruinados. Agora nunca alcançaremos a meta desejada." E dessa forma, Sanatana Goswami continuamente se condenava repetidamente por ter aceito serviço daquela pessoa que mais aspirava servir: Sri Radha Thakurani. Esse passatempo de Sri Sanatana Goswami está registrado no Bhakti-Ratnakara.

O Bhakti-Ratnakara também registra como, diariamente, Sri Sanatana Goswami fazia a peregrinaçäo de quatro milhas ao redor da Colina de Govardhana, mas por causa de sua idade avançada isso era problemático. Ainda assim, näo queria quebrar seus princípios religiosos näo circumambulando a Colina de Govardhana. E assim sofria grandes dificuldades físicas enquanto circumambulava Govardhana. O Senhor sabia de tudo e assim podia entender a dor que Seu devoto Sanatana estava experimentando. Decidiu fazer algo a respeito disso. Certo dia, um menininho gopa veio até Sanatana e disse: "Baba! Estás velho. Näo faça tanto esforço para andar em volta da Colina de Govardhana. Sanatana disse: "Nunca abandonarei meus princípios religiosos." Krishna entäo disse-lhe: "Baba! Näo vai honrar Minha palavra?" Sanatana disse: "Se for honorável, entäo honrarei." Na ocasiäo, Krishna presenteou Sanatana Goswami com uma shila, uma pedra, trazendo a marca de Seus pés de lótus, e disse: "Isto é Govardhana-shila, um pedaço de pedra da própria Govardhana." Sanatana disse: "Que farei com ela?" Sri Krishna disse: "Se circumambulares esta Govardhana-shila, teu voto de andar o caminho todo ao redor da Colina de Govardhana diariamente permanecerá intato, pois ao circumambulá-la, circumambulas a Colina de Govardhana. Assim terás o mesmo resultado, manterás teu voto intato, e näo comprometerás teus princípios religiosos." Sri Sanatana Goswami ficou silencioso. Podia entender que o próprio Giriraja lhe dera essa shila. Daquele dia em diante, costumava circumamblar a Govardhana-shila marcada com as divinas marcas dos pés de lótus de Sri Krishna.

Seguindo as ordens de Chaitanya Mahaprabhu, Sri Rupa e Sri Sanatana Goswami näo subiam a Colina de Govardhana porque a consideravam näo-diferente de Krishna, a Suprema Personalidade de Deus. Sob algum pretexto, a Deidade Gopala concedeu a Sri Chaitanya Mahaprabhu uma audiência sob a colina, e Gopala similarmente favoreceu Srila Rupa e Sanatana Goswami. Durante sua velhice madura, quando Rupa Goswami näo podia ir à Colina de Govardhana devido a invalidez, Gopala bondosamente foi a Mathura e permaneceu no templo de Viththaleshavara durante um mês. Foi entäo que Srila Rupa Goswami pode ver a beleza de Gopala para plena satisfaçäo de seu coraçäo.

As atividades de Srila Rupa e Sanatana Goswami enquanto residiam em Vrindavan säo descritas por Krishnadasa Kaviraja Goswami no Chaitanya Charitamrita (C.C. M.L. 19.128-132) como segue: "Os irmäos na verdade näo possuem residência fixa. Residem sob árvores - uma noite sob uma árvore e na outra sob outra. Srila Rupa e Sanatana Goswami mendigam um pouco de comida das casas de brahmanas; abandonando todo tipo de desfrute material, só pegam um pouco de päo seco e gräo-de-bico torrado. Só levam potes-d'água, e usam colchas rasgadas. Sempre cantam os santos nomes de Krishna e discutem Seus passatempos. Em grande júbilo, também dançam. Ocupam-se quase vinte e quatro horas por dia em prestar serviço ao Senhor. Usualmente dormem só uma hora e meia, e alguns dias, quando cantam continuamente o santo nome do Senhor, nem dormem. As vezes escrevem literatura transcendental sobre serviço devocional, e às vezes ouvem sobre Sri Chaitanya Mahaprabhu e passam seu tempo pensando sobre o Senhor. Quando os associados pessoais de Sri Chaitanya Mahaprabhu ouviam sobre as atividades de Rupa e Sanatana Goswamis, diziam: "Que é maravilhoso para uma pessoa à qual foi concedida a misericórdia do Senhor?"

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