sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Sri Ramachandra Kaviraja

Srila Narotama Dasa Thakura cantou: "daya koro sri acharya prabhu srinivasa ramachandra mage narotama dasa" - "ó Srinivasa Acharya Prabhu, tenha a bondade de conceder-me tua graça; Narotama Dasa sempre ora pela associaçäo de Ramachandra Kaviraja."

Sri Ramachandra Kaviraja era um dos associados internos de Narotama Dasa Thakura. Ambos eram praticamente inseparáveis. Sri Ramachandra Kaviraja obtivera a plena misericórdia e bençäos de Srinivasa Acharya. O pai de Sri Ramachandra Kaviraja era Ciranjiva Sena - e sua mäe era Sri Sunanda. Primeiro Ciranjiva Sena vivia em Kumara Nagara. Depois que casou com a filha do poeta Sri Damodara Kavi, mudou-se para o vilarejo de Sri Khanda. Ciranjiva Sena era um Mahabhagavata, um dos maiores devotos do Senhor. Os devotos de Sri Khanda, liderados por Narahari Sarakara Thakura todos tinham grande afeiçäo e respeito por Ciranjiva.

Ciranjiva é mencionado no Chaitanya-Charitamrita por Krishnadasa Kaviraja Goswami como segue (C.C.Madhya 11.92): "Gopinatha Acharya continuou a apontar os devotos (para Prataparudra Maharaja). 'Aqui temos Suklambara. Ali, temos Sridhara. E aqui, Vijaya, e lá Valabha Sena. Esse é Purushotama, e aquele Sanjaya. E aqui estäo todos residentes de Kulina-Grama, tais como Satyaraja Khan e Ramananda. De fato, todos estäo aqui presentes. Veja por favor. Aqui estäo Mukunda Dasa, Narahari, Sri Raghunandana, Ciranjiva e Sulochana, todos residentes de Khanda. Quantos nomes lhe direi? Todos devotos que se vê aqui säo associados de Sri Chaitanya Mahaprabhu, que é a vida e alma deles.' O rei disse: 'Ao ver todos esses devotos, sinto-me muito maravilhado, pois nunca vi tamanha refulgência. Na verdade a refulgência deles é como o brilho de um milhäo de sóis. Tampouco ouvi os nomes do Senhor cantados täo melodiosamente.'"

Mukunda Dasa, Narahari, Sri Raghunandana, e Ciranjiva todos viviam em Khanda. Eram como um só, pois a meta de vida deles era a mesma, e cada ano na época do festival Rathayatra costumavam ir a Jaganatha Puri dhama para tomar o darshana dos sagrados pés de Sri Chaitanya Mahaprabhu, para participarem do kirtana e vê-Lo dançar e cantar.

Ciranjiva Sena nascera numa família vaidya, isto é, da casta de médicos. Seus dois filhos eram Sri Ramachandra e Sri Govinda. Estes dois filhos eram grandes jóias. Ambos obtiveram a misericórdia de Srinivasa Acharya Prabhu, depois do que foram viver em Teliya-Budhari-Grama. Budhari-Grama fica no distrito de Murshidabad.

Ramachandra Kaviraja era especialmente entusiasmado, sincero, perseverante, energético, inteligente, e belo. Seu avô materno era Sri Damodara Kaviraja, que era famoso como grande poeta. Ele costumava instruir as pessoas na filosofia dos shaktas. Também era iniciado na senda do dharma seguido pelos shaktas.

Depois do falecimento do pai deles, Ciranjiva, Sri Ramachandra e Sri Govinda foram viver no local do avô deles, Damodara Kaviraja. Como viviam com seu avô erudito, seguidor do shaktismo, gradualmente também foram infectados com sua filosofia anti-devocional, embora o pai deles fosse grande devoto mahabhagavata e associado pessoal de Sri Chaitanya Mahaprabhu. Ramachandra Sena tornou-se médico e gradualmente ficou famoso como poeta altamente erudito também.

Certo dia, Ramachandra Kaviraja estava na estrada para Yajigrama, voltando de seu casamento. Na hora, Srinivasa Acharya passava pela estrada, acompanhado de seus seguidores.

Certo dia Srinivasa Acharya estava em Yajigrama em sua própria casa, onde muitos devotos haviam se reunido para ouví-lo palestrar sobre o Srimad-Bhagavatam. Entäo Ramachandra Kaviraja, filho de Ciranjiva Sena (um dos associados eternos de Mahaprabhu), passou pela casa de Srinivasa Acharya. Acabava de se casar, e junto com sua noiva, voltava do casamento.

De longe, Srinivasa Acharya viu Ramachandra Kaviraja e este também viu Srinivasa Acharya a distância. Ao se verem de longe, um profundo humor de amizade surgiu no coraçäo desses dois devotos eternamente perfeitos de Sri Gauranga. Depois de se verem, tiveram desejo de se conhecer. Srinivasa Acharya perguntou sobre Ramachandra Kaviraja ao povo local. Disseram que era um grande pandita chamado Ramachandra - um poeta erudito e médico perito de uma família de médicos e sábios. Ouvindo tudo isso, Srinivasa Acharya sorriu de contentamento.

Ramachandra Kaviraja ouvira falar de Srinivasa Acharya e queria obter seu darshana. Assim, finalmente foi até a casa de Srinivasa Acharya junto com sua noiva e foram apresentados por algumas das pessoas do lugar. O dia passou rapidamente em discussäo de Hari-katha. Passaram a noite onde estavam desde que haviam chegado a Yajigrama, na casa de um brahmana perto do lar de Srinivasa Acharya, e na manhä seguinte foram até Srinivasa Acharya e caíram diante de seus pés,oferecendo reverências prostradas.

O Acharya pediu que Ramachandra Kaviraja se levantasse do chäo, e cordialmente o abraçou: "Vida após vida tens sido meu amigo. A providência nos reuniu novamente hoje, arranjando nosso encontro." Ambos sentiram grande felicidade por terem se encontrado. Vendo que Ramachandra possuía uma inteligência aguda e transcendental, profundamente sábia, Srinivasa estava muito contente. Começou fazendo-o ouvir as escrituras dos Goswamis. O comportamente puro de Ramachandra, sempre de acordo com as escrituras, agradava muito a Srinivasa Acharya, e depois de alguns dias o Acharya iniciou-o no divino mantra Radha-Krishna.

Passados alguns dias, Ramachandra Kaviraja deixou Yajigrama e retornou a seu próprio vilarejo. Na época, os shaktas locais ficaram com inveja dele, vendo que fora iniciado na fé Vaishnava. Ramachandra Kaviraja sempre marcava seu corpo com as doze marcas de tilaka dum devoto, e sempre cantava o Santo Nome de Hari.

Certo dia, após banhar-se no Ganges, Ramachandra Kaviraja estava a caminho de casa quando os shaktas o confrontaram dizendo: "Kaviraja! Porque näo adora Shiva? Teu avô Damodara Kaviraja era um grande devoto de Shiva, entäo porque abandonaste a adoraçäo dele?"

Ramachandra disse: "Tanto Shiva quanto Brahma säo guna-avataras, encarnaçöes qualitativas do Senhor, porém Krishna é a raiz de todos avataras, todas encarnaçöes. Simplesmente por adorar Krishna toda adoraçäo é realizada, assim como ao regarmos a raiz duma árvore, todas folhas e ramos säo automaticamente alimentadas. Prahlada, Dhruva, Vibhisana e outros que eram os queridos devotos de Krishna säo sempre glorificados por Brahma e Shiva. Por outro lado, Ravana, Kumbhakarna, Vanasura, e outros tinham inveja de Krishna e devotavam-se exclusivamente a Shiva. Mas porque tinham inveja de Krishna, o próprio Shiva encarregou-se de destruí-los.

Quando Brahma cria o universo, ele ora a Vishnu pelo sucesso no processo da criaçäo. E Shiva também se submete ao Senhor Vishnu, aceitando em sua cabeça o Ganges, cuja água lavou os pés de lótus de Vishnu e que santifica os três mundos."

Ao ouvir isto, os smarta brahmanas, adoradores materialistas de Shiva conhecidos como shaktas, ficaram sem palavras.

Gradualmente, Ramachandra Kaviraja tornou-se ansioso por ir a Vrindavana e tomar darshana dos sagrados pés dos Goswamis ali. Após recber a permissäo e bençäos de vários Vaisnavas da Bengala, incluindo Sri Raghunandana Thakura, partiu para Vrindavana num dia auspicioso. A caminho de Vridavana, visitou Gaya, Kasi, Prayaga, e muitos outros locais sagrados. Afinal chegou a Mathura. Ali ele se banhou no Yamuna em Vishrama ghata, e depois do banho, descansou por algum tempo. Tomou darshana da Deidade Adi Keshava no local de nascimento de Sri Krishna e entäo continuou seu caminho para Vrindavana.

Naquela época, Srinivasa Acharya estava hospedado em Vrindavana. Chegando lá, Ramachandra Kaviraja ofereceu suas reverências aos pés de lótus de Sri Jiva Goswami e Srinivasa Acharya e transmitiu aos devotos dali as notícias auspiciosas sobre os devotos de Bengala. Por ordem de Jiva Goswami, Ramachandra Kaviraja foi visitar as três Deidades principais de Vrindavana: Sri Madana-Mohan, Sri Govinda, e Sri Gopinatha, bem como o mausoléu memorial ou samadhi de Sanatana Goswami. Tomou darshana dos sagrados pés dos principais Goswamis que residiam em Vrindavana na época, inclusive Sri Lokanatha Goswami, Sri Gopala Bhata Goswami e Sri Bhugarbha Goswami. Ao verem a maravilhosa perícia de Ramachandra em compor lindos versos glorificando Sri Krishna, deram-lhe o título "Kaviraja", em reconhecimento por sua erudiçäo.

Após passar algum tempo em Vrindavana sob a guia dessas grandes almas, e depois de visitar os locais sagrados importantes, Ramachandra recebeu ordem dos Goswamis para retornar a Bengala. Chegando à Bengala, passou por Sri Khanda, Yajigrama, Khadadaha, Ambika Kalna, e outros centros Vaisnavas famosos, antes de chegar a Navadwipa, onde visitou Mayapura. Ali, foi até a antiga casa de Jaganatha Mishra, onde encontrou o velho servo da família de Mahaprabhu: Ishana Thakura. Após apresentar-se, pegou a poeira dos santos pés de Ishana e orou por suas bençäos, que recebeu. Ramachandra Kaviraja era extremamente querido por Srinivasa Acharya, e por essa razäo, Narotama Thakura considerava Ramachandra Kaviraja como sua própria vida e alma. Uma discussäo de seus passatempos conjuntos encontra-se no capítulo sobre Narotama Dasa Thakura deste livro (Vida dos Santos Vaisnavas).

Sri Ramachandra Kaviraja salvou muitos pecadores e descrentes, concedendo-lhes uma vida de auspiciosidade como resultado de sua misericórdia. No festival em Kheturi-grama, ele era um dos líderes. Por ordem de Narotama Dasa Thakura e Srinivasa Acharya, ele novamente foi a Vrindavana. Ao chegar lá, descobriu que quase todos Goswamis tinham falecido. Ao saber disso, seu coraçäo sentiu profunda dor. Depois de alguns dias em Vrindavana, sentindo a dor da separaçäo, dessa maneira, enquanto meditava profundamente nos pés de lótus de Sri Radha e Govinda, ele entrou em seus passatempos eternos de Vrindavana. O dia de seu desaparecimento é o terceiro dia da lua obscura do mês de Pausha.

O discípulo de Sri Ramachandra Kaviraja era Sri Harinama Acharya. Ramachandra Kaviraja compôs muitos versos lindos glorificando Sri Gauranga. A seguinte cançäo é um exemplo das muitas oraçöes compostas por Sri Ramachandra Kaviraja. Nessa cançäo ele glorifica a misericórdia transcendental inconcebível do Senhor Sri Krishna Chaitanya Mahaprabhu, que descendeu para salvar todas almas na densa obscuridade da era de Kali; nela ele também expressa sua profunda humildade Vaishnava, lamentando que foi incapaz de provar mesmo uma gota da graça do Senhor.

Cançäo por Ramachandra Kaviraja

dekha dekha are bhai gauranga canda parakasha
purnimara canda yena udita akasha
simharasi paurnamasi gaura avatara
chadala yuger bhara dharani nistara
mahitale achaye yateka jivatapa
harala sakala pahun nijahi pratapa
kaliyuge tapa-japa nahi kona tantra
prakashila mahapratu hare-krishna mantra
premera vadara kari bharila samsara
pataki naraki saba paila nistara
andha avadhi yata kare parakasha
bindu na padila mukhe ramachandra dasa

"Vejam só, vejam só irmäos, Sri Gauranga surgiu como uma lua dourada. Assim como a lua cheia surgiu no céu, outra lua mais cheia na forma do Gaura avatara, surgiu só para salvar a todos nós dessa era obscura de ignorância.

Sua misericórdia tira todo sofrimento das almas jivas. Japa, mantras, austeridades e outros rituais säo todos inúteis para purificaçäo na era de Kali. O único meio de salvaçäo é o hare krishna mantra. Mahaprabhu é täo bondoso que manifestou o néctar do Santo Nome, para que as almas nessa era obscura possam ser libertadas do ciclo de repetidos nascimentos e mortes, e duma vida infernal nos sistemas planetários inferiores, e experimentarem o amor divino.

Que a pessoa seja cega ou muda näo importa; todos podem afogar-se nessa inundaçäo. Dessa forma Chaitanya Mahaprabhu inundou todo mundo de amor por Deus, mas Ramachandra Dasa é täo desafortunado que näo pode sequer saborear apenas uma gota desse néctar."

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